-Nossa... - suspirou dissolvendo o açúcar na xícara de café - Você já sentiu algo parecido com isso, Cê? Abaixou a cabeça, deixando algumas mechas do cabelo cobrir a face, os braços pesados desapegados sobre a mesa, as veias rígidas.
Será que é por causa do frio? Perguntei-me assoprando cuidadosamente o chá. Ele usava um casaco preto pesado até as canelas, e as mãos congelando na esperança do aconchego de uma fonte de calor. Mal pude expressar algum consolo quando me interrompeu.
- A primeira vez que vi Mathilda ela tinha seus cinco anos de idade - Sorriu brevemente - Ela estava trancafiada atrás de uma grande vidraça e me lembro de seus dedinhos rosáceos como borrachas aderidos ao vidro. Sua respiração embaçava a janela, mas aquele tipo de olhar, ah Cê, era daquele tipo que a gente nunca se esquece.
É esse o problema?- Me enalteci – vai me dizer que está por aí, todo amuado por causa de um garotinha?
- Não, Cê, Mathilda não é mais uma garotinha, isso foi coisa de muito tempo atrás.
Suas bochechas avermelharam, logo tomou um pouco mais de ar e recomeçou:
- A segunda vez que vi Mathilda ela já estava feita. A encontrei sentada em um banco de praça qualquer, aquele olhar, e os dedinhos rosados se escondendo dentro da blusa escura, só podia ser. Tinha umas olheiras enormes, a boca entreaberta, e o cabelo escuro e espesso fechando toda a cara. Não podia encostar nela, sabe? Alguma coisa simplesmente repelia, mas o que aconteceu foi que ao passar por ali na manhã seguinte ela ainda estava lá, da mesma forma.
Naquele momento vi seu olhar tão distante, que pensei que nunca o teria de volta, uma seriedade monstruosa tomou conta de sua face, mas que logo se expressou aveludada na continuidade das palavras.
- A terceira vez que vi Mathilda foi quando acordei depois de levá-la comigo para casa, ela estava sentada no sofá lendo um de meus livros, só de polainas. Segundo ela, faz muito frio nas canelas.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
garota ao palco
Aquela não passava de uma dessas noites ordinárias de sabádo ,e a chuva já pesava sofrega sobre expectativas passiveis a serem dilaceradas. O tipo de atmosfera úmida e abafada propicia ao mal estar, não lavava nem escondia, só deixavam corpos e animos amolecidos.
Quando o relógio indiciou cerca de 15 para as 22, uma garota foi deixada a porta do bar. No convite, o carimbo das 22 marcara em relevo a parte de trás do papel. Ela segurou-o penosamente. Não havia uma alma viva, mas esperou silenciosamente enquanto a chuva escorria sobre sua pele alva. Abriram a porta e a deixaram estar.
Não pediu uma bebida, não acendeu um cigarro, não colocou-se a falar. Caminhou para a frente do palco e esperou o show, a postura incomoda, as mãos atadas, a expressão em branco, o cabelo molhado fazendo coçar a cara.
Quando a musica começou, a garota não pode fazer nada além de fechar os olhos. E sentir.E pular. E dançar como se estivesse no seu próprio mundo, movimentando-se de maneira incoerente ao ritmo ou a suspeita da presença alheia. Seus membros se contorciam e sua cabeça girava ao ponto de partir o pescoço.
O som intensificava-se e a garota agora gritava e gania segurando o próprio corpo desgovernado. Alguém colocou a mão em seu ombro em uma tola tentativa, mas parecia perdida dentro daquele transe. Os olhos giravam brancos em suas órbitas e o cabelo pesado feria a própria pele.
Quando a coisa realmente desandou, a garota começou a exalar um odor hediondo e fluídos começaram a deixar sua carne, e por todo o lugar, espalharam-se devido sua agitação desenfreada. Quando conseguiram conte-la, embestiava uma força digna de possessão, a qual somente abandonou seu corpo quando a musica cessou, forçando-a expelir uma espuma esverdeada durante alguns minutos.
Quando os braços a libertaram, desfaleceu silenciosamente pelo chão, embebida pela chuva.
Quando o relógio indiciou cerca de 15 para as 22, uma garota foi deixada a porta do bar. No convite, o carimbo das 22 marcara em relevo a parte de trás do papel. Ela segurou-o penosamente. Não havia uma alma viva, mas esperou silenciosamente enquanto a chuva escorria sobre sua pele alva. Abriram a porta e a deixaram estar.
Não pediu uma bebida, não acendeu um cigarro, não colocou-se a falar. Caminhou para a frente do palco e esperou o show, a postura incomoda, as mãos atadas, a expressão em branco, o cabelo molhado fazendo coçar a cara.
Quando a musica começou, a garota não pode fazer nada além de fechar os olhos. E sentir.E pular. E dançar como se estivesse no seu próprio mundo, movimentando-se de maneira incoerente ao ritmo ou a suspeita da presença alheia. Seus membros se contorciam e sua cabeça girava ao ponto de partir o pescoço.
O som intensificava-se e a garota agora gritava e gania segurando o próprio corpo desgovernado. Alguém colocou a mão em seu ombro em uma tola tentativa, mas parecia perdida dentro daquele transe. Os olhos giravam brancos em suas órbitas e o cabelo pesado feria a própria pele.
Quando a coisa realmente desandou, a garota começou a exalar um odor hediondo e fluídos começaram a deixar sua carne, e por todo o lugar, espalharam-se devido sua agitação desenfreada. Quando conseguiram conte-la, embestiava uma força digna de possessão, a qual somente abandonou seu corpo quando a musica cessou, forçando-a expelir uma espuma esverdeada durante alguns minutos.
Quando os braços a libertaram, desfaleceu silenciosamente pelo chão, embebida pela chuva.
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