quarta-feira, 17 de março de 2010

Pupa

Encontrei a menina dos cabelos tão curtos como menino cujo amor que nós tínhamos agora era tão grande que podia ficar horas só sonhando em continuar atada a ela. Melhores amigas. Aquela amizade pura e nostálgica de jardim de infância, imutável. E lá estávamos as duas vestidas para alguma festa esquisita onde nem todo mundo entrava.E embora os trajes vulgares e a maquiagem demasiadamente carregada, podia de longe assistir a nossa inocência como duas crianças que apenas incharam de tamanho.

Éramos as pessoas certas, tão alegres, tão impregnadas daquela magia que a muito tempo se perde, porque não nos deixariam então? Estávamos de mãos juntas e pude lembrar o exato momento do separar dos dedos, agora olhando assim para ela tão desesperadamente não entendendo porque ela tinha de crescer de uma hora para outra enquanto eu continuava parada no mesmo lugar.

Passamos para a adolescência.Lá me ofereceram peças conceituais para desfilar, e ao revê-lo, todo taciturno sentado em um canto, numa fileira, com um amigo seu, alguma coisa de dentro me impeliu para fazer aquela papel ridículo, só para ele ver, só para ele me ver.

Deixei a menina sentada próxima e me empurraram para uma fila. Tentaram me colocar uma roupa fora de meu tamanho e resolvi sair daquele jeito mesmo, sem parte de cima. Afinal no momento eu ainda era criança sem saber que já era moça crescida. Um rubor tomou-me a face quando percebi a nudez a qual me submeti sem entender bem o porquê, enquanto olhava envergonhada para ele que se mantinha cabisbaixo com olhos embaçados.

Quando voltei para a minha amiga, ela estava toda encantada dizendo que havia recebido uma carta de amor. Que na mesma fileira, estava um moço muito bonito que queria conhecê-la. Meu mundo caiu. Meus olhos encheram-se e olhei para ele pela ultima vez com tamanho sofrimento que quando acordei, meu corpo todo ainda sentia. Mas e eu?

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