domingo, 14 de março de 2010

Reality Bites

Quando eu beirava meus quinze anos, talvez antes disso até, fiquei até de madrugada acesa para conseguir ver um filme curioso de 1994. É, admito que o motivo daquela coisa toda de me empenhar ao máximo para não fechar os olhos, ou ligar a tv bem silenciosamente para a Dona Mãe não aparecer sorrateiramente no meu quarto, pode ter sido o simples fato que o protagonista era muito bonito, sabe? Uma dessas coisas lindas de se ver. Alto, jovem, rebelde, ah! Rebeldia para mim sempre foi muito importante, essa coisa de ir contra o sistema, de fugir de casa, de aprontar alguma loucura, de fazer algo incrível por alguém, e nessa idade, cá entre nós a gente realmente é movido pelo superficial, pelo óbvio, não é? Em momento algum quis dizer que isso acabe dentro da gente no futuro, mas torna-se menos freqüente para algumas pessoas, ou assim eu pelo menos espero.

Era sobre um cara e uma garota que no fundo estavam apaixonados. E moravam juntos. Note que ao dizer no fundo, quero dizer que eles só ficam juntos no final, ou no quase fim e depois se separam e ficam juntos. Quero dizer que quando eles finalmente se enlaçam sob os lençóis, ele vai embora e a deixa sozinha, dizendo que decerto ele devia ter mais o que fazer. Como Kerouac disse outro dia desses "Os homens são tão malucos, querem a essência, a mulher é a essência, lá está ela bem na mão deles mas eles saem correndo construindo grandes estruturas abstratas.(...)em vez disso eles saem por aí correndo e ficam achando que a mulher é um premio e não um ser humano."

Naquela época, eu realmente era desprovida de todo e qualquer conhecimento dessas relações mais complexas, ou em outras palavras eu era assexuada (por mais um bom tempo), e aquela coisa toda me assustou/emocionou/abalou/traumatizou/não sei deveras. Aquela coisa de "meu bem, veja bem, foi só uma noite sei lá". Mas não era. Pra alguém nunca é, e já ouvia a mãe muito sábia e profética dizendo que um sempre sairia chorando no final da brincadeira.

Mas o que me espanta é lembrar dele assim segurando minha cintura enquanto eu assustada/emocionada/tremula/sem reação, me esforçava ao máximo para não fazer nenhum ruído estranho que o acordasse. Queria permanecer assim, a camisola de seda vermelha com seus braços ao redor, para sempre. E agora quando penso sobre o filme, me parece tão igual, a mesma coisa. A menina que ficou chorando no final da brincadeira e o cara que simplesmente foi embora porque afinal aquilo tudo foi tão esquisito e sei lá. E sabe-se lá. E agora quando me lembro do filme, concordo que naquela época nunca me passaria na cabeça que um dia aconteceria a mesma coisa comigo tanto tanto tempo depois.

E agora refletindo sobre o filme, e analisando seu título, penso que realmente tenha sido uma escolha um tanto incoerente, já que tinha um final feliz.

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