quarta-feira, 21 de abril de 2010

Adeus

Porque veja bem se você entende, ela suspirou pressionando a mãozinha fechada contra o peito semi nu, é como, é como se tivesse um buraco, bem aqui, compreende? Os olhos pretos feito duas jabuticabas molhadas, e isso me toma às vezes por completa, sugando toda a vida ali pra dentro, o ganancioso. Ele riu esparramado na cama, o calção aberto, a pele viscosa, ofegante - Isso tudo é desculpa, Cecília, larga a mão de exageros! Vai lá na cozinha e pega aquele vinho, vamos, eu abro pra você, e aí você fica mais relaxada, sem essas neuras e complicações, chega de ser complicada menina. Põe aquele vestidinho curto que eu gosto, e a gente pode ir comer alguma coisa até, eu pago, juro. Não precisa fazer essa cara de ódio não, Cê.
Ela colocou os pés para fora da cama e tocou o chão, calçou os chinelinhos pardos, vestiu um casaco meio amarelado. Os passinhos com pressa quase não tocavam o assoalho lustrado e polido, vermelho. Alcançou as chaves, tremula, o barulho espalhando-se pela casa inteira, abriu o trinco e girou a maçaneta. Como se disso dependesse o resto da vida e, e em um só movimento de cordas vocais, exasperou-se:

-FORA!

2 comentários:

  1. Me lembrou dessa:

    "Quando olhaste bem nos olhos meus
    E o teu olhar era de adeus
    Juro que não acreditei
    Eu te estranhei
    Me debrucei
    Sobre teu corpo e duvidei
    E me arrastei e te arranhei
    E me agarrei nos teus cabelos
    Nos teus pêlos
    Teu pijama
    Nos teus pés
    Ao pé da cama"

    ResponderExcluir
  2. "if it's reason against wine - i'll choose the wine!
    the gloomy smile the sweet denial
    if it's mirage against no meaning - like i think it is
    i'll be a child of entertainment"

    ResponderExcluir