quarta-feira, 7 de abril de 2010

o errado

Eu sempre estive fazendo as coisas erradas no tempo errado e na hora errada.
Escolhendo o ônibus errado, e depois olhando com desespero para fora, as mãos grudadas no vidro, o nariz, a cara, tudo querendo sair, esperando que da outra estação ele olhasse e corresse pro caminho certo.
Escolhia os cursos errados, transbordando de mulheres velhas e enfadonhas trocando receitas e maridos, enquanto terminava de assinar a matricula com desespero, assistindo penosamente ele marcar a outra bolinha e não a minha.
Fazia opção pelas pessoas erradas e sofria com o coração na mão e os olhos cheios de lágrimas enquanto sentava sozinha no parque com desespero assistindo a pessoa certa tão feliz com outra pessoa que não era, mas podia ter sido eu.
Chorava até nas horas erradas e depois ficava encolhida embaixo das cobertas assistindo algum programa desesperador, enquanto o dia lá fora estava tão bonito e ele até disse que me chamaria pra sair se eu não estivesse tão assim.
Ficava até nas rodas erradas, conversando desesperadamente qualquer coisa, quando ao mesmo tempo alguém que eu queria acabava de chegar na roda ao lado que eu havia acabado de descartar.
Falava as palavras erradas, e com o mesmo impulso de desespero tentava tampar a boca enquanto olhava pra ele fazendo aquela cara, e desejava com todas as forças simplesmente não ter falado nada.
E andava com as companhias erradas.
E assistia aos programas errados.
E escutava musicas errada.
Os filmes, os beijos, os lugares, as viagens, as famílias, os romances, os estudos, os negócios, as horas.
A vida.
Tudo tão errado.

2 comentários:

  1. a única coisa realmente interessante na vida é a arte do erro. Talvez Cecília esteja vendo as coisas de forma errada...

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  2. De fato. Mas as coisas menos impactantes são as que mais fazem diferença no rumo da vida. O resto é fantasia, todos esses caminhos não-escolhidos, esses sonhos tolos, esses anseios não-satisfeitos.

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