sábado, 6 de março de 2010

Família

-Que coisa horrível - cuspiu - Você não tem de se tornar assim, tão publica. E aonde vai a educação que te dei?
Ela estava encurralada em um canto, ajoelhada como se pedisse perdão por um pecado que não era seu. A boca ampla e aberta, molhada de lágrimas.
Quebrou a garrafa e continuou arrastando os pés pelos cômodos.
- Filha minha, filha minha não sai por aí achando que vai ser estrela. Não sai por aí se mostrando pra homem. Que coisa é essa? -Esbofeteou-a de mão cheia - E aparece essa hora!?
A menina se enfiava cada vez mais no canto, sem ter aonde se esconder. O sangue escorria pela face tingindo as roupas. Tentou argumentar, juro que tentou. Ele a levantou pelo braço com tamanha força que seus dedos já não tocavam mais o chão.
- E que roupa é essa? Filha minha não veio de açougue nenhum pra ficar mostrando a carne. O que sua mãe ia achar disso, Han!? Sua sem vergonha, sujando a família assim - seu rosto tomou uma expressão de asco, cuspiu na menina também - Imagina se sua mãe ve uma coisa dessas.
Largou o corpo que caiu pesadamente sobre o chão e os ossos se encolheram todos, trêmulos. O homem resmungava algumas palavras incompreensíveis enquanto seu olhar parecia perdido a procura de alguma coisa que não estava ali.
- E minha garrafa? Bandida! O que você fez com minha garrafa!? A gente cria nossos filhos, e olha a gratidão! - voltou-se para a menina agarrando-a pelo pescoço – Cadê!? - chacoalhando.
Lançou-a para longe e sentou-se à mesa, desabando a chorar. A menina fugiu para o quarto enquanto o homem permaneceu em seu sofrimento.
Na manhã seguinte encontrava-se adormecido no mesmo lugar. O movimento nas panelas o despertou.
- Ah, filhinha é você que está aí? - a voz afetuosa - Já tomou seu café? - levantando o rosto da mesa - Saiu ontem, foi para algum lugar?
- Não pai - respondeu a menina com o olhar baixo, a voz apagada, a ferida no canto da boca - Só acordei pra beber água quando o senhor chegou.

Um comentário: