quarta-feira, 19 de maio de 2010

Três

Então é isso? - Cecília perguntou amargamente com tamanho nojo que podia sentir transpirando de seus poros. Minha Cecília Ana com os dedos parcialmente encobertos em uma de suas luvas esquisitas que revelavam.
Não é assim Cecília...
Ela jogou o café na minha cara, não, mas sei que bem quis, e seu corpo permanentemente entorpecido havia concentrado todo o resto da vida naqueles dedinhos congelados.
Eu achei, sabe? Eu achava que eu era única. Você disse, sabe? Eu juro que escutei você dizer uma vez dessas.
Eu só queria me esconder. Entrar em baixo da mesa, sair correndo, qualquer coisa do gênero. Estava paralisado e Cecília Ana prestes a me estrangular,me dar um murro ao menos, já podia sentir o roxo esverdeado espalhando a dor latejante pela minha face.
Pude suspirar aliviado quando desviou o olhar de mim. Havia uma outra moça na mesa, e eu já havia me esquecido dessa aí. Mas na minha frente estava Cecília fitando a pobre coitada com monstruoso desprezo. Apostei que cuspiria e esperei ansioso por uma eternidade, uma eternidade muda, calada.
Cecília levantou-se bruscamente, a pose imaculada, deslizando para fora do recinto.
Reuni minhas tralhas, parti. A moça? Bem, e nem me lembro na verdade, deve ter ficado por ali mesmo, que me importa isso?

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