sábado, 12 de junho de 2010

Meu organismo demasiado frágil

Era noite e ele fumava um desses cigarrinhos espertos, fazendo a fumaça sair boleada boca a fora, coisa linda de se ver. Apertava os olhos e dava outra tragada. Enchia o peito, as marquinhas amarelas tão bem delineadas nas pontas dos dedos. Estávamos sentados na beira da praia, descalços, a água do mar beijando delicadamente a ponta de meus dedos, espumosa.
Eu sempre gostei da praia noturna, da areia escura, do mar chumbo guardando os segredos sujos dos casaizinhos apaixonados. E lá estávamos nós sentados lado a lado, ele com o braço cruzado por trás de mim, e a mão que fazia círculos carinhosos no meu ombro descoberto.
Interrompeu o gesto e com a testa franzindo, perguntou-me - Porque é que você nunca fuma um desses hein, Cê? Talvez ajudasse a aliviar um pouco sua tensão,sabe? - Eu continuei a olhar para a imensidão daquela água infinita enquanto pensava em alguma resposta que ele, naquele estado deplorável, poderia entender.
Levantei-me e a saia ergueu-se sem vergonha com a brisa. Ele começou a rir, me olhando ainda sentado. Peguei em suas mãos para que se levantasse e pedi que me rodasse com toda a força do mundo. Ergueu a manga da blusa, chacoalhou um pouco a cabeça, segurou meus braços e girou, girou, girou, girou, girou, girou, girou... Meus pés levitaram sobre a areia, os cabelos selvagens, os maxilares arreganhados de tanto sorrir. Pousou-me delicadamente sobre o chão.
Eu estava em puro êxtase. As pupilas dilatadas, as mãos tremulas, o coração em um disparo. A sensação torpe, as extremidades adormecidas, o corpo desmaiado. As bochechas coradas, os sons ecoando em um doce suspiro, o deleite sem a droga.

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